No final de semana dos dias 30 de junho e 01 de julho, estava em casa descansando e ouvindo o disco de Claudya (anteriormente com nome artístico Claudia), de 1973, “Deixa eu Dizer”.
Sou completamente fascinada pela capa dele, que mostra o rosto da cantora fotografado em preto e branco, os cabelos soltos com certo movimento e a boca aberta, como se estivesse falando ou cantando (a possibilidade de ser um grito é a que gosto de pensar). A contracapa mostra ela com um riso inteiro e olhar vivo, nos encarando e chamando para cantar junto.
Deixa, deixa, deixa
Eu dizer o que penso dessa vida
Preciso demais desabafar
Em “África Brasil”, Jorge Ben Jor aparece de um jeito bem parecido na capa e a energia desses dois álbuns me traz um sentimento muito parecido, de estar colocando para fora alguma coisa que esteja presa, entalada na garganta. A semelhança não fica só na fotografia dos artistas, mas também no conteúdo de protesto que as letras contidas nas obras comunicam. Esses dois trabalhos, inclusive, compartilham a mesma década de lançamento, anos de 1970, período de bastante repressão por parte da ditadura militar no Brasil.
A música que dá nome ao disco é uma composição de Ronaldo Monteiro e Ivan Lins, que canta uma versão maravilhosa no seu disco Modo Livre, de 1974. (um dos sonhos de consumo desta colecionadora).
Claudya foi a cantora que mais gravou composições de Marcos Valle, que para quem não conhece é um cantor, compositor, arranjador, instrumentista, enfim, um gênio da música brasileira. As músicas dele são realmente muito boas, com arranjos maravilhosos e instrumental muito utilizado por dj’s ou sampleado por artistas contemporâneos (uma pena que isso fez inflacionar o valor dos discos dele. não conto com nenhum em minha estantezinha). Esse é o trabalho dele que mais gosto (a capa é icônica).
Por conta desse resgate feito por artistas da cena atual, muita gente hoje tem acesso às boa produções das décadas anteriores. Marcelo D2 contribuiu muito para essa divulgação de artistas “esquecidos”, inclusive da própria Claudya, que voltou a bombar na cena musical brasileira quando o músico sampleou “Deixa eu Dizer” em seu disco solo de 2008.
Se “Deixa eu Dizer” é um disco extremamente moderno hoje, fico imaginando na época em que foi lançado, lá na década de 70, em plena ditadura militar. Nele encontramos a versão de “O circo”, que é uma música antiga, mas numa roupagem de samba bem diferente da original.
“Pois é, Seu Zé”, composição de Gonzaguinha, é uma crítica que super se aplica aos dias de hoje, a uma sociedade composta por pessoas que apenas seguem o fluxo, sem se permitir pensar de forma diferente ou fazer críticas ao que lhes é posto, apresentado, num verdadeiro comportamento de manada.
Ultimamente ando matando até cachorro a grito
E a plateia aplaudindo e pedindo bis
(…)
Mas não me queixo dessa sorte eu sou um comodista
E já me chamam por aí de verdadeiro artista
Pois a plateia ainda aplaude ainda pede bis
A plateia só deseja ser feliz
Outra música do disco que caiu nas graças dos jovens dessa geração é a “Só que deram Zero pro Bedeu”, composta por Luis Vagner. A história contada na música de fato aconteceu. Bedeu era um compositor de samba-rock que ao inscrever uma música sua num festival acabou recebendo nota zero. É um swing maravilhoso com uma letra muito divertida.
Alta sensibilidade, espirituosidade
Só que deram zero pro Bedeu
Só que deram zero pro Bedeu
(Que nota é essa, negão?)
O disco ainda conta com uma das melhores versões que já ouvi de “Chega de Saudade”, que inicia só com a voz de Claudya acompanhada do piano. Diva demais!
O disco traz também composição de Cateano, “Esse Cara”, muito conhecida na voz de Maria Bethânia e que Claudya canta no mesmo nível de maestria.
E para finalizar, deixo uma das músicas que mais gosto, que dá aquela sensação de alma lavada: “Agora quem ri sou Eu”, composição da cantora.
Você andou dizendo
Do meu terno
Do meu senso
Da minha maneira de querer contradizer seu coração
Agora quem ri sou eu
Acho que é isso.
Temos uma publicação?
Que pena que não façam mais discos ou capas de discos ou não se publiquem fotos como a foto de Claudya na capa. Muito boa a imagem né… Pra mim, foi tipo assim: “Pedir licença de quem! Deixa eu dizer!” Inclusive, devo destacar, Claudya é muito mais autêntico do que Cláudia.
temos sim, a música tocou aqui <3