Sábado foi o dia nacional do samba. Sábado também é o dia mundial da faxina. Esse sábado, dia do samba, resolvi fazer uma faxina na estantes dos discos. No meio do primeiro nicho, eu já tinha me arrependido de ter começado. Quanta poeira a rua traz para dentro de nossas casas, fico sempre impressionada. Moro num prédio baixo, no último andar e minha rua é residencial, então não passa transporte público, que levanta uma fuligem danada (gosto de falar fulinge. primeiro escrevi com a grafia errada e queria deixar assim, mas consertei. gosto também do som de imbigo, esmagrecer e Guilerme. prefiro a forma errada de se falar e escrever. agora fecho o parênteses e volto a falar da faxina).
Pois bem, queria desistir, mas persisti e quase joguei para cima um show que teria no final da tarde daquele mesmo dia. Sábado foi o dia também da persistência por aqui. Deitei meia hora para descansar e depois levantei e fui me arrumar.
O show era de samba. Várias horas de música sem parar. Era a promessa do evento.
Quando cheguei no local com minha irmã, fiquei chocada com a quantidade de pessoas (esperava um sambinha com clima intimista, mas estava LO TA DO). E também me surpreendeu o fato de se tratar de um rolé hetero (meio top), nos moldes dos que eu ia na adolescência. Achei legal a lembrança que tudo aquilo me provocou.
Estava bom. Um pouco estranho por estar desacostumada com o ambiente. Mas ainda assim me diverti bastante.
Teve participação de Guiga de Ogum. Se você não o conhece, vale a pena procurar. É um grande compositor de samba da Bahia. Teve também uma fala importante de Sr. Clarindo Silva, jornalista, poeta, compositor daqui da terra, que sempre está disponível para uma boa conversa na sua Cantina da Lua no Pelourinho.
Mas voltando à faxina, limpando os discos e reorganizando eles, acabei revisando toda a minha coleção. Lembrando do que tinha, do que eu não ouvia há tempos e de uns que eu precisava ouvir novamente para relembrar do que se tratava.
Sim, tenho uns poucos discos que não lembro das músicas que estão contidas nele. Enquanto limpava, coloquei para tocar o disco de Edgar, Ultraleve, lançado em formato de vinil pela Noize Records em 2021. Ou seja, tem dois anos que o disco tá parado aqui em casa sem eu nem saber do seu conteúdo (lembro de ter ouvido assim que recebi ele, mas acho que estava distraída, provavelmente organizando meu jantar, colocando a massa de cuscuz para descansar e fritando meu ovo).
Gostei?
Não.
Na verdade, não é de todo ruim. Só não me agrada muito como a coisa é construída, a batida de funk, frases de efeito e a voz que é muito próxima a de Criolo (que eu não curto muito).Em alguns momentos lembrei também de Black Alien (de quem eu gosto muito).
Agora passarei mais 2 anos sem escutá-lo, até lembrar novamente que não lembro dele. Me perguntam porque não vendo os discos que não escuto tanto (seria o certo a se fazer), mas esse específico, de Edgar, tem uma arte muito bonita e quero guardá-lo aqui comigo. Quanto aos outros, acredito que a permanência de alguns tenha também a mesma razão (na verdade, são poucos os discos que tenho e não curto. Criolo, Duda Beat, Marina Sena…). Tem também um fator mercadológico que me impede, pois esses discos geralmente têm um valor baixo (alguns estão valendo menos do que o preço inicial, ou seja, desvalorizaram), o que faz com que a venda nem sempre compense os transtornos suportados nas transação (anunciar na internet, embalar, custos de envio e etc).
Ouvi ainda João Gilberto, disco que gravou com Gil, Caetano e Maria Bethânia, que é muito bom e estava esquecido em meio aos outros mais conhecidos do artista. Nele tem uma versão de Milagre, de Caymmi, muito bonita.
Depois foi a vez de Alceu e Antônio Carlos e Jocafi: Espelho Cristalino, Estação da Luz e Cada Segundo. Fica a recomendação para ouvir todos os três.

No domingo de manhã fiquei ouvindo alguns discos que eu tinha anotado interferência na audição, como pulos e estalos (faço essas anotações no app do Discogs mesmo). Finalmente instalei meu toca disco novo (que é antigo - dos anos 80) e confirmei o que já suspeitava sobre o peso da agulha do TD anterior provocar os pulos e engasgos nas faixas. Fiquei feliz, porque se tem uma coisa que me frustra é disco pulando.
Outra felicidade aconteceu na sexta-feira, quando resolvi me presentear de Natal/Aniversário (fico velha todo dia 28/12) com a nova prensagem de Rap é Compromisso, de Sabotage, feita pela VinilSP (quem tiver interesse, entra em contato com eles pelo instagram ou no site. Corre, porque é raridade e vai esgotar logo). Esse disco, além de ser um marco na música brasileira, é muito simbólico e está na minha lista de obras que me formaram politicamente. É uma alegria imensa tê-lo na minha coleção.

“Dream Team da rima
essa união me dá autoestima
Mestre das armas
do microfone à esgrima
(…)
Um bom lugar se constrói com humildade”
É bom lembrar, né?
.escrevo, assim, minhas palavras.
Leituras
No final de semana dei uma parada em Terra Arrasada, porque fui dar atenção ao instagram. Que péssimo isso, mas é a realidade e a leitura nunca fez tanto sentido. Hoje, segunda-feira, retorno ao livro e reencontro o app somente na sexta.
Comecei a ouvir o podcast Lima Barreto: o negro é a cor mais cortante, da Rádio Batuta e fiquei com uma vontade enorme de reler alguma coisa o autor. Coloquei na bolsa para iniciar a leitura nessa semana Triste Fim de Policarpo Quaresma. Para 2024 pretendo ler Diário do Hospício, que tenho enrolado faz tempo, pelo teor de violência e racismo contido na obra. Enquanto ouvia o programa, li alguns contos indicados nos episódios (O moleque é bem bonito).
No mais, ainda tenho que escolher o último livro do Desafio Leia Mulheres. No mês de dezembro o tema é um livro-reportagem. Está no meu radar o Maria Bonita: Sexo, violência e mulheres no cangaço, da jornalista Adriana Negreiros.
Dezembro é curto, mas bora que dá!
Bem, acho que é isso.
Temos uma publicação?
Agora pronto! Vou falar fulinge e esmagrecer! 😌
Fiquei curiosa com o disco do João Gilberto, Gil, Caetano e Bethânia. Adorei a dica! Vou pesquisar.
Obrigada pelo texto!
Até breve!