Mais uma segunda-feira.
São 17:29h, daqui a pouco tenho que ir embora (em menos de meia hora), mas resolvo iniciar mesmo assim este texto aqui no trabalho.
Para falar o quê?
Também não sei.
Pensei em milhões de coisas no final de semana. Fiz algumas anotações no whatsapp, mas agora abro e leio o que escrevi e não consigo desenvolver aquelas ideias.
Eram sobre o livro que finalizei na manhã de sábado: Fúria.
Quero falar sobre ele, mas ainda não sei o que dizer. Foi uma leitura que me mordeu e deixou uma marca, como aqueles cicatrizes que ganhamos na infância e nos fazem únicos e inconfundíveis na multidão (mesmo sendo uma bem pequena, no tornozelo, que ninguém sabe por que cargas d'água tem a tonalidade meio esverdeada).
Eu não sou mais a mesma que era antes de ler Clyo Mendoza.
Os personagens estão aqui comigo ainda, e desconfio que não vão embora. Ocasionalmente, invadirão uivando como coiotes a minha mente quando esta virar um deserto de pensamentos num final de tarde quente. Ou me aparecerão num sonho intranquilo qualquer. María e Salvador. Daniela. Cástula. Juan e Lázaro. Sara. O cachorro.
Meu maior medo estava ali descrito em todas aquelas páginas, me causando uma angústia, mas também me envolvendo e seduzindo como jamais ia imaginar que aconteceria diante daquele tema: loucura.
Eu não quero ficar louca. Muito menos conviver com loucos.
Mas eu amei mergulhar na loucura enfurecida que é a história.
. escrevo, assim, minhas palavras.
Meus livros e discos e outras coisas a mais
Falando em loucura e personagens que batem altos papos com as vozes de suas cabeças, acabei de ler a newsletter de Raphael Dias, dessa vez eu falo de talking heads e.
Cheguei em casa às 18:40h e depois de hidratar meu cuscuz, sentei para continuar este texto.
Abri o notebook e vi que deixei em aberto a ideia sobre a edição de Raphael, em que ele fala sobre normalidade e a banda Talking Heads. Antes de me acomodar no sofá e continuar o que comecei e já não lembrava mais do que queria falar, fui colocar um disco para embalar as presentes palavras.
O escolhido: More Songs About Buildings and Food, da supracitada banda. Pois é, totalmente influenciada pelo colega. Isso porque não tenho o 77 , que é o primeiro disco do TH e um dos meus preferidos, junto com o Fear of Music.
Minha música preferida do álbum e que começou a tocar exatamente nesse momento é a Warning Sign, que tem uma abertura instrumental tão boa (a bateria e o baixo me lembram alguma coisa do Red Hot). Escuta aí e me conta o que acha dela.
Estava aqui pensando e antes que latidos raivosos tomassem a minha mente, me veio um paralelo entre as histórias de A Cabeça do Santo, de Socorro Acioli, e Fúria. Talvez por ambas se enquadrarem no fantástico latinoamericano, ou por abordarem a loucura como resultado de tanta pobreza e violência, ou, ainda, pelas peregrinações dos personagens no ambiente desértico (o sertão brasileiro, no caso do romance de Acioli). Indico as duas obras, sugerindo começar por Clyo e deixando que a narrativa divertida de Socorro venha, por fim, soprar a ferida aberta após a primeira leitura.
Acho que é isso.
Temos uma publicação?
vou precisar ler Socorro Acioli e Clyo Mendoza. já tinha ouvido falar da primeira, mas fiquei sabendo da Clyo agora. faz uns 3 anos que tô evitando literatura contemporânea, com essa de terminar e publicar meu primeiro livro, aí começar um segundo. evito especialmente coisas que tratam do fantástico e da loucura, só pra não me comparar, mas talvez seja hora de parar com isso.
não tava esperando essa menção. uma coisa boa dum canto como o substack é que permite esse diálogo entre os nossos canteiros literários, em vez da febre de criação de conteúdo que arrasou a terra das outras redes. traz memórias dos finados blogues, duma internet menor, versão virtual de cidadezinha de interior em que todo mundo se dá bom dia enquanto varre a própria calçada. obrigado.
foods and buildings é meu primeiro lp da vida. começou a tocar take me to the river agora. é bom demais esse disco. e realmente, essa bateria aquosa com o baixo da Tina - sempre a melhor parte dos arranjos -, de warning signs, me agrada muito.
Obrigado por compartilhar sobre sua leitura. O que nos rasga, nos marca, e cria uma espécie de escudo, ou conhecimento frente ao que era desconhecido.
Gosto muito de quando o texto simplesmente grita para sair. Pede vazão, tem vida e vontade própria, se joga na frente de outras demandas. Quando ele começa a tomar forma, ele se torna mais leve, não é mais um latido estridente, mas um passeio no bosque. Feliz pelo desenvolvimento do seu texto e como outros tantos te inspiraram a costurar suas palavras.
Obrigado!